29.6.08

viagem - mst


"(...) e depois num pequeno e mágico hotel do Lago di Como, alternando jornais, línguas, vinhos e conversas de ocasião, com a intimidade e o destemor que só os viajantes solitários ousam. A chuva chegou quando eu estava no lago - abundante, magnífica, devastadora.
De novo me meti no comboio de noite e atravessei a Toscânia adormecida, imaginando vinhas ao sol e terraços com vasos de cerâmica e colunas de mármore, Florença cor de fogo debruçada sobre o rio, Siena sob uma ligeira neblina de poeira suspensa no ar, mas, porque era Inverno e finalmente chovia, e um vento de leste, frio e solto incomodava os passageiros petrificados nas estações que atravessávamos sem parar e arrastava guarda-chuvas perdidos e ramos de árvores na noite de Itália, fui direito a Veneza onde, há muitos anos atrás, numa ofuscante manhã de Agosto, na praça pejada de turistas, eu jurara a mim mesmo só voltar quando fosse Inverno, chovesse e toda a praça estivesse tão limpa como este coração que agora trazia comigo."

in Não te deixarei morrer, David Crockett - Miguel Sousa Tavares

Sem comentários: